A matéria produzida após o Big-Bang pela expansão do Universo foi hidrogênio e hélio, as estrelas se formaram deste material primordial e usaram estes dois elementos como combustível para gerar energia, através de reações nucleares. Durante esta etapa as estrelas brilham e produzem os elementos químicos de maior número atômico, principalmente o carbono, o oxigênio, cálcio e o ferro, que são os principais elementos que nos formam e o mundo ao nosso redor. Estes elementos são levados para a superfície das estrelas por convecção ou difusão radiativa, a partir da qual são dispersados por vento estelar ou ejetados para o meio interestelar quando uma estrela massiva explode, este material é então usado na formação de novas estrelas e seus planetas.
O destino final das estrelas, depois de consumir todo o seu combustível nuclear, depende de duas coisas: primeiro, se a estrela é simples ou faz parte de um sistema binário ou múltiplo, e 60% das estrelas faz; e segundo, de sua massa inicial. Se a estrela faz parte de um sistema binário ou múltiplo, sua evolução depende tanto da massa quanto da separação entre as estrelas, que determinará quando na evolução as estrelas interagirão.
A base dos cálculos de evolução estelar é a manutenção do Equilíbrio Hidrostático pelo qual a pressão do gás (a fonte microscópica de pressão é a reflexão, ou absorção, de partículas por uma superfície real ou imaginária, que resulta em transferência de momentum para esta superfície exercendo uma força na superfície; a força média por unidade de área é chamada de pressão) contrabalança a gravidade, na maior parte da vida das estrelas, já que se não houver equilíbrio, o colapso se dá em escala de tempo térmico, ou tempo dinâmico – cerca de 15 minutos para o Sol.
Por definição, estrelas têm reações nucleares estáveis em alguma etapa da sua evolução. As reações ocorrem quando a temperatura no núcleo da estrela fica suficientemente alta (8 milhões de Kelvin) para que a energia cinética,
Ecinética=½ m v2 = (3/2) kT (P=NkT)
consiga vencer a repulsão coulombiana
Reação | Tmínima | E=Δm c2 |
---|---|---|
41H—»4He | 8 milhões K | m(41H)=1,0073 M(4He) |
34He—»12C | 100 milhões K | m(34He)=1,00065 M(12C) |
212C—»24Mg | 1 bilhão K | m(212C)=1,00061 M(24Mg) |
indica que
- nascem 300 estrelas de 1 MSol para cada uma estrela de 10MSol e,
- 300 estrelas de 10 MSol para cada uma estrela de 100MSol.
Durante a formação, uma nuvem de gás molecular, frio, se contrai, formando uma proto-estrela.
Se a massa condensada estiver abaixo de 0,08 MSol=73 MJúpiter, ela será uma anã marrom. Não será uma estrela pois nunca terá reações nucleares transformando hidrogênio em hélio (Tnúcleo<8 milhões K).
Quando a temperatura no núcleo da estrela fica suficientemente alta (8 milhões K) para iniciar as reações nucleares estáveis, a proto-estrela torna-se uma estrela da seqüência principal, transformando hidrogênio em hélio no núcleo [4m(1H)=1,0073 m(4He)].
Antes de chegar à seqüência principal, onde transforma hidrogênio em hélio no seu núcleo, a proto-estrela se contraiu por algumas centenas de milhares de anos.
Se a massa da estrela for entre 0,08 MSol e 0,45 MSol, depois de transformar H em He na seqüência principal, ela se tornará uma anã branca com núcleo de hélio. As estrelas com massa até 1,75 MSol transformam o hidrogênio em hélio pelo ciclo próton-próton, e têm uma camada de convecção externa.
Estágio | Duração | Temperatura | Temperatura | Raio |
---|---|---|---|---|
1 MSol | (anos) | Central (106K) | Efetiva (K) | (700 000km) |
Seqüência Principal | 10 bilhões | 15 | 5400 | 1 |
Subgigante | 100 milhões | 50 | 4000 | 3 |
Flash de hélio | 100 mil | 100 | 4000 | 100 |
Ramo Horizontal | 50 milhões | 200 | 5000 | 10 |
Supergigante | 10 mil | 250 | 4000 | 500 |
Nebulosa Planetária | 10 mil | 300 | 100 000(3000 nebula) | 0,01(1000 nebula) |
Anã Branca | 11 bilhões | 100 | 100 000 a 3000 | 0,01 |
Anã Preta | 1015 a 1037 | 5K | 5 | 0,01 |
A vida do Sol na seqüência principal está estimada em 10 bilhões de anos. Uma estrela de 0,1 massas solares levará 3 trilhões de anos para sair da seqüência principal. As estrelas mais massivas queimam o hidrogênio pelo ciclo CNO, e têm núcleo convectivo, mas atmosfera radiativa. Quando as estrelas consomem o hidrogênio no núcleo, que corresponde a aproximadamente 10% da sua massa total (50 000 km no Sol), elas saem da seqüência principal.
A geração de energia nuclear passa a se dar em uma camada externa a este núcleo, com aproximadamente 2 000 km de espessura, onde a temperatura e a densidade são suficientes para manter as reações nucleares. Como nenhuma energia nuclear é gerada no núcleo nesta fase, ele se contrai rapidamente, e a luminosidade da estrela aumenta um pouco. As camadas externas se reajustam ao aumento de luminosidade expandindo-se, e como a área superficial aumenta, sua temperatura diminui. Desta forma, a luminosidade aumenta e a estrela torna-se mais vermelha, aproximando-se do ramo das gigantes no diagrama HR.
Quando o Sol atingir esta fase, daqui há mais de 5 bilhões de anos, a radiação solar atingindo a Terra será tão intensa que a temperatura na superfície da Terra atingirá 700º C, os oceanos ferverão, deixando a Terra seca. Mesmo a atmosfera se esvairá, pois os átomos e moléculas estarão se movendo a velocidades tão altas que escaparão da Terra. No centro do Sol, a temperatura atingirá 100 milhões de graus Kelvin, e a reação triplo-α, descoberta pela americano Edwin Ernest Salpeter), iniciará, combinando três núcleos de hélio (partículas α) em um núcleo de carbono [3m(4He)=1,00065 m(12C)]. O Sol será então uma gigante vermelha, transformando hélio em carbono no núcleo, e hidrogênio em hélio em uma fina camada mais externa. A massa do Sol não é suficiente para que a temperatura do núcleo alcance um bilhão de K, necessária para queimar o carbono. Desta forma, a estrutura final do Sol será de um pequeno núcleo de carbono e oxigênio, com uma camada externa de hélio, e outra mais externa de hidrogênio. O Sol descenderá então para a região das anãs brancas. Como a massa do Sol é 340 mil vezes a massa da Terra, quando ele chegar a fase de anã branca, com raio próximo ao raio da Terra, sua densidade será de várias toneladas por centímetro cúbico. Podemos comparar com a densidade dos elementos mais densos na Terra, como a platina, com 21 g/cm3, o ósmio e o irídio, com 22,6 g/cm3. O princípio da incerteza de Werner Karl Heisenberg,
acoplado ao princípio da exclusão de Wolfgang Pauli, que diz que dois férmions não podem ocupar o mesmo estado quântico simultaneamente, forçará os elétrons a altos níveis de energia e, portanto, altas velocidades, agindo como a força repulsiva que contrabalança a atração da gravidade, impedindo que a anã branca colapse.
Matéria degenerada:
A separação entre as partículas é muito menor que 10-8cm, o tamanho de um átomo de H. Para um elétron com Δr=10-11m, v=73 mil km/s, enquanto que vtérmica (T=100 milhões K)= 68 mil km/s.
A estrela sai da seqüência principal quando 10% de seu hidrogênio total é transformado em hélio. Este é o limite Schenberg-Chandrasekhar, publicado em 1942 pelo brasileiro Mário Schenberg e pelo indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, e corresponde ao ponto da evolução de uma estrela em que o balanço de pressão no núcleo isotérmico não pode ser mais alcançado.
Como a perda de energia é maior para estrelas mais massivas,
a seqüência principal dura
- 10 bilhões de anos para estrelas com a massa do Sol,
- 100 milhões de anos para estrelas com 10 MSol e
- somente 1 milhão de anos para estrelas com 100 MSol.
Quando a estrela atinge o ramo das gigantes, a zona de convecção superficial atinge a região onde o hidrogênio já foi transformado em hélio, iniciando a primeira dragagem, trazendo material processado (principalmente N14) para a atmosfera da estrela. Quando estas estrelas transformam o hélio nuclear em carbono, elas saem do ramo das gigantes e passam para o ramo horizontal. Quando o hélio nuclear foi todo transformado em carbono, e parte em oxigênio, as estrelas entram no ramo das supergigantes, chamado também de Ramo Assintótico das Gigantes (AGB).
Uma segunda dragagem, trazendo matéria processada para a fotosfera, ocorre quando a estrela atinge o ramo gigante assintótico (AGB), e ainda uma terceira ocorre se a estrela tem massa superior a 3 MSol. Após passar outras centenas de milhares de anos no ponto superior direito deste diagrama, chamado de ramo gigante assintótico (AGB), a estrela ejetará uma nebulosa planetária, e o núcleo remanescente será uma estrela anã branca.
Recapitulando, se a estrela se formar com massa entre 0,8 e 8 MSol, após consumir o hidrogênio no centro, a estrela passará pela fase de gigante e depois de supergigante, ejetará uma nebulosa planetária, e terminará sua vida como uma anã branca, com massa da ordem de 0,6 MSol, raio de cerca de 10 000 km e densidade de ρ=106g/cm3.
Estrelas entre 8 e 25 MSol
Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 8 e 25 MSol (acima de 8±1 MSol de acordo com Stephen J. Smartt, 2009, Annual Review of Astronomy & Astrophysics, 47, 63 e 11± 1 a 25 MSol, Alexander Heger, C.L. Freyer, S.E. Woosley, N. Langerm D.H. Hartmann, 2003, Astrophysical Journal, 591,288 e Philipp Podsiadlowski, N. Langer, A.J.T. Poelarends, S. Rappaport, Alexander Heger, E.D. Pfajl, 2004, Astrophysical Journal, 612, 1044), após a fase de supergigante e a formação de Fe no núcleo, com a mais alta energia de ligação (P=Nkt, Nfinal=56 Ninicial), ela ejetará a maior parte de sua massa em uma explosão de supernova, e terminará sua vida como uma estrela de nêutrons, com uma temperatura superficial acima de 1 milhão de graus K, massa de cerca de 1,46 MSol, raio de cerca de 20 km e densidade de ρ=1014g/cm3. A separação entre os nêutrons é da ordem do tamanho do nêutron, um fentometro (10-15m). A pressão é mantida pelo gás de nêutrons degenerado (mn=1839 me — REN=1/1000 Rab). O elemento químico estável de maior massa conhecido na Terra é o bismuto 209Bi83 , o urânio 238U92 é o mais pesado que ocorre naturalmente, mas uma estrela de nêutrons tem A=1057.
Na transformação para estrela de nêutrons, ocorrem dois problemas:
- Problema do Momentum Angular de Rotação: aumenta por 1/(100 0002), onde Ω é a velocidade angular de rotação.
- Problema do Fluxo Magnético: aumenta por 1/(100 0002), onde B é o campo magnético.
Quanto maior a massa das estrelas mais rápido elas evoluem: uma estrela de 10 massas solares sai da seqüência principal em 100 milhões de anos.
Depois da fase de gigantes, passam para supergigantes, com temperaturas nucleares de alguns bilhões de graus Kelvin, permitindo que os processos de acréscimo de partículas α ao C produzam sucessivamente O16, Mg24, Si28, S32, Cl35, Ca40, Sc45, Ti48, …, Fe56 em poucas centenas de milhões de anos. Este processo termina em Fe56 porque a energia de ligação do ferro é a mais alta, de modo que quando um Fe56 captura um fóton, ao invés de liberar energia, ele se rompe, concluindo a evolução estelar com a explosão de uma supernova (P=NkT, N=56N1, P=56P1).
Uma das primeiras ocorrências de colapsos violentos de estrelas massivas foi registrada em 1054 d.C., pelos chineses, que observaram a explosão da estrela no centro da nebulosa do Caranguejo, sem saber que se tratava de um colapso. Muitos destes colapsos, que chamamos de supernovas, foram observados em outras galáxias. A última observada a olho nu foi a SN1987A, descoberta por Ian Shelton no Chile em 23 de fevereiro de 1987, na galáxia anã satélite de nossa galáxia, a Grande Nuvem de Magalhães. Como a estrela está a 168 mil anos-luz de distância, a explosão de fato ocorreu em 166.013 a.C. A estrela Rigel, na constelação do Órion, tem as mesmas cores da Sanduleak 69, a precursora da SN1987A. Como ela tem V=0 e está a 400 anos-luz de distância, quando ela explodir ela deverá alcançar V=-11 e será tão brilhante quanto a Lua. A supergigante vermelha Betelguese, também em Órion, também está na fase logo antes de supernova.
A explosão de supernova ocorre porque, após a formação do núcleo de ferro, o núcleo colapsa violentamente em alguns segundos, sob o peso de sua própria atração gravitacional, sem ter outro combustível para liberar energia nuclear. As camadas superiores, contendo aproximadamente 90% da massa colapsam então sobre este núcleo, e após o comprimirem até o limite das leis físicas, são empurradas para fora com velocidades de milhares de quilômetros por segundo. Tanta energia é liberada em um colapso de supernova que ela brilha com a luminosidade de uma galáxia de 200 bilhões de estrelas. Florian Hanke, B. Müller, A. Wongwathanarat, A. Marek & Hans-Thomas Janka publicaram em 2013 o artigo SASI Activity in Three-Dimensional Neutrino-Hydrodynamics Simulations of Supernova Cores, no Astrophysical Journal 770, 66, mostrando o cálculo tridimensional do colapso do núcleo.
Em fevereiro de 1987, vários detectores aqui na Terra registraram os neutrinos associados à explosão da supernova SN1987A, que está a 168 mil anos-luz de distância. Os nêutrons, tendo o mesmo spin dos elétrons, obedecem também ao princípio da exclusão de Pauli, mas sendo 2000 vezes mais massivos, podem ser comprimidos a distâncias 2000 vezes menores do que os elétrons em uma anã branca. Os nêutrons formam então um gás de nêutrons degenerados, que podem parar o colapso da supernova, se a massa inicial da estrela na seqüência principal for menor do que cerca de 25 massas solares. O diâmetro deste núcleo é de cerca de 20 km, e forma uma estrela de nêutrons, como a encontrada no centro da nebulosa do Caranguejo. Depois deste espetáculo, a supernova começa a esmaecer, deixando como resíduo, se não houver disrupção total, um núcleo extremamente compacto, uma estrela de nêutrons.
Para estas estrelas acima de 10 massas solares na sequência principal, mesmo a pressão de degenerescência dos elétrons é muito pequena para parar o colapso no estágio de uma anã branca. Os elétrons livres são forçados para dentro do núcleons pelas imensas forças gravitacionais produzidas pelo colapso das camadas externas. O decaimento β inverso então transforma os pares de elétrons e prótons em nêutrons, libera uma imensa quantidade de neutrinos, que pode ser observada aqui na Terra.
As estrelas de nêutrons foram preditas teoricamente por Walter Baade e Fritz Zwicky em 1934, no Physical Review, 45, 138. Em 1938, Julius Robert Oppenheimer, que em 1941 lideraria o Projeto Manhattan para a construção da bomba atômica, e George Michael Volkoff demonstravam que, teoricamente, as estrelas de nêutrons também tinham uma massa máxima, próxima de 1,4 MSol. Estrelas acima dessa massa se condensariam a uma singularidade, um buraco negro.
A primeira estrela de nêutrons foi detectada em 1967, quando a doutoranda da Universidade de Cambridge Susan Jocelyn Bell Burnell, trabalhando em um experimento proposto por Antony Hewish, no Mullard Radio Astronomy Observatory em Cambridge, Inglaterra, descobriu que certos sinais pulsados de rádio chegavam com enorme precisão a cada 1,33728 segundos, vindos da constelação de Vulpecula.
Vulpecula: [CP 1919=PSR 1919+21, duração do pulso de 0,04 s; Observation of a Rapidly Pulsating Radio Source, Antony Hewish , Susan Jocelyn Bell, John D. H. Pilkington, Paul F. Scott, & R. A. Collins, Nature, 217, 709 (1968)].
A maioria dos astrônomos da época acreditava que estes pulsos eram devido a pulsações radiais de estrelas, mas Thomas Gold calculou que pulsações deste tipo decairiam muito rapidamente, e sugeriu que os pulsares eram estrelas de nêutrons em rotação, com forte campo magnético (Nature, 218, 731, 1968). Hewish recebeu o prêmio Nobel em 1974 pela descoberta dos pulsares. Mas a maioria das estrelas de nêutrons não são pulsares, pois sua emissão de rádio já terminou há muito tempo, já que sua vida média é de só 10 milhões de anos, a não ser que esteja em uma binária. Até 2013, 2213 pulsares foram catalogados, com períodos entre 1,4 ms e 8,5 segundos, muitos detectados no Rádio Telescópio de Arecibo. Destes, 171 tinham períodos de milisegundos, 126 eram membros de sistemas binários e 99 estavam associados com cúmulos globulares (Richard N. Manchester, 2006, Advances in Space Research, Volume 38, p. 2709). A massa média das estrelas de nêutrons em 61 sistemas binários é 1,46 ± 0,30 MSol, de acordo com C. M. Zhang, J. Wang, Y.H. Zhao, H. X. Yin, L.M. Song, Débora Peres Menezes (UFSC), Dayal T. Wickramasinghe, Lilia Ferrario, & P. Chardonnet, 2011, Astronomy & Astrophysics, 527, 83.
Considerando-se os pulsares como estrelas de nêutrons girando rapidamente e com alto campo magnético, a emissão em rádio é produzida por um par de plasma sobre as calotas polares da estrela de nêutrons, oriundos da cascata de partículas depois da aceleração de elétrons e pósitrons no intenso campo elétrico e magnético (Duncam Ross Lorimer & Michael Kramer 2005, Handbook of Pulsar Astronomy, Cambridge University Press). Evan F. Keane & Michael Kramer, 2008, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, estimam um total de 2± 3 supernovas por colapso de núcleo/século, que implica em (155 mil ± 6 mil) estrelas de nêutrons na Galáxia.
Estrelas acima de 25 MSol
As estrelas Wolf-Rayet, oriundas da evolução de estrelas de alta massa (acima de 25MSol), Tef~30 000 a 60 000K, são variáveis e têm um envoltório de poeira e gás ejetado da estrela pela forte pressão de radiação (dM/dt ~2 a 10 ×10-5 MSol/ano). As estrelas Wolf-Rayet foram descobertas em 1867 pelos franceses Charles J.F. Wolf e Georges A.P. Rayet por apresentarem linhas de emissão no espectro. Karel A. van der Hucht publicou em 2001 o The Seventh Catalogue of Galactic Wolf-Rayet stars, no New Astronomy Reviews, 45, 135, contendo 227 estrelas. Cerca de 350 WR já foram detectadas em outras galáxias.
As estrelas O2V apresentam no espectro linhas de N IV, com potencial de ionização de 77 eV e, portanto, requerem Tef>60 000 K. Estas estrelas vivem menos de 2 milhões de anos na sequência principal e, por isso, somente 45 estrelas O2V e O3V são conhecidas, 10 na nossa Galáxia, 1 na Pequena Nuvem de Magalhães e 34 na Grande Nuvem de Magalhães, sendo que 22 estão na nebulosa de 30 Dourados.
Para as estrelas massivas, a fase de gigante e supergigante são contíguas, sem nenhum evento que marque o início da queima de hélio, do carbono, do oxigênio, do neônio, do magnésio, do silício, e assim sucessivamente, até transformar o núcleo em ferro. Quando o núcleo chega a ferro, não há mais como extrair energia através de reações de fusão nuclear, e a estrela colapsa, ejetando a maior parte de sua massa como supernova. Mas este tipo de supernova, chamado de Supernova tipo II, ejeta menos de 0,1 MSol em Fe, já que o Fe nuclear se fotodesintegra. Se não houver disrupção total, o que resta será uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
Se a estrela iniciar sua vida com massa entre 25 e 100 MSol, após a fase de supernova restará um buraco negro, com massa da ordem de 6 MSol, e raio do horizonte de 18 km. O raio do horizonte, ou raio de Karl Schwarzschild, é a distância ao buraco negro dentro da qual nem a luz escapa: = . Para algumas estrelas massivas, os modelos de deflagração da explosão de supernova prevêem dispersão total da matéria.
Um candidato a buraco negro estelar é a estrela Cygnus X1, descoberta pelo satélite de raios-X Uhuru (liberdade em Swahili, a língua do Quênia, onde o satélite foi lançado em 12.12.1970). Tom Bolton descobriu que o sistema consiste:
- estrela supergigante azul [O9.7Iab HD226868, (RA=19h58m21,676s DEC=+35°12′05,78′′, V=8,9)] com 19±2 massas solares, orbitando uma massa de cerca de 15±1 massas solares (Jerome A. Orosz et al., 2011), invisível no ótico,
- com período de 5,6 dias e a=0,128 UA:
Esta companheira compacta é muito mais massiva que o maior limite teórico, de 4,3 massas solares, de uma estrela de nêutrons. Cygnus X-1 é a mais brilhante fonte de raios X duros (E>20 keV) persistente, e está a (1860±120) pc (6100 anos-luz) (Mark J. Reid et al. 2011).
Outros buracos negros estelares foram detectados em sistemas binários que emitem raio-X, do gás da estrela companheira acelerado pelo buraco negro.
Sistema | Porbital | f(M) | Doador | Classificação | Massa |
---|---|---|---|---|---|
[dias] | Tipo Espectral | [MSol] | |||
GRS 1915+105 | 33.5 | 9.5±3.0 | K/MIII | LMXB/Transiente | 14±4 |
V404 Cyg | 6.471 | 6.09±0.04 | K0IV | 12±2 | |
Cyg X-1 | 5.600 | 0.244±0.005 | 09.7Iab | HMXB/Persistente | 15±1 |
LMC X-1 | 4.229 | 0.14±0.05 | 07III | >4 | |
XTE J1819-254 | 2.816 | 3.13±0.13 | B9III | IMXB/Transiente | 7.1±0.3 |
GRO J1655-40 | 2.620 | 2.73±0.09 | F3/5IV | 6.3±0.3 | |
BW Cir | 2.545 | 5.74±0.29 | G5IV | LMXB/Transiente | >7.8 |
GX 339-4 | 1.754 | 5.8±0.5 | |||
LMCX-3 | 1.704 | 2.3±0.3 | B3V | HMXB/Persistente | 7.6±1.3 |
XTE J1550-564 | 1.542 | 6.86±0.71 | G8/K8IV | LMXB/Transiente | 9.6±1.2 |
4U 1543-475 | 1.125 | 0.25±0.01 | A2V | IMXB/Transiente | 9.4±1.0 |
H 1705-250 | 0.520 | 4.86±0.13 | K3/7V | LMXB/Transiente | 6±2 |
GS 1124-684 | 0.433 | 3.01±0.15 | K3/5V | 7.0±0.6 | |
XTE J1859+226 | 0.382 | 7.4±1.1 | |||
GS 2000+250 | 0.345 | 5.01±0.12 | K3/7V | 7.5±0.3 | |
A 0620-003 | 0.325 | 2.72±0.06 | K4V | 11±2 | |
XTE J1650-500 | 0.321 | 2.73±0.56 | K4V | ||
GRS 1009-45 | 0.283 | 3.17±0.12 | K7/M0V | 5.2±0.6 | |
GRO J0422+32 | 0.212 | 1.19±0.02 | M2V | 4±1 | |
XTE J1118+480 | 0.171 | 6.3±0.2 | K5/M0V | 6.8±0.4 |
Buracos Negros Estelares de acordo com Jorge Casares, 2007, Proceedings IAU Symposium No 238, p.3
O movimento do gás e das estrelas no núcleo de nossa Galáxia, a Via Láctea, indica que ali existe um objeto compacto, provavelmente um buraco negro com massa de 3,6 milhões de massas solares.
Os buracos negros massivos formados por estas estrelas primordiais, colidem e crescem, formando os buracos negros supermassivos detectados nos núcleos de galáxias. Considerando que o WMAP demonstrou que as primeiras estrelas nasceram quando o Universo tinha 400 milhões de anos (chamada época da reionização) e, portanto, antes da formação das primeiras galáxias, os primeiros buracos negros se formaram antes das galáxias. Naturalmente depois eles crescem pelos mergers de galáxias e por acresção de matéria.
Se a estrela iniciar sua vida com massa acima de 100 MSol, a partir de uma nuvem que já contenha alguns metais, como Eta Carinae, da grande região de formação estelar de Carina, ela ejetará a maior parte de sua massa ainda na seqüência principal, por pressão de radiação, e depois evoluirá como uma estrela de até 100 MSol. Eta Carinae teve várias ejeções de massa por volta de 1843, quando tornou-se tão brilhante quanto Sírius, e o homúnculo em sua volta tem cerca de 12,5 massas solares.
A supernova super-brilhante 2006gy foi causada pelo colapso de uma estrela massiva. Se a supernova fosse devido ao colapso de uma anã-branca, ela deveria ter sido 1000× mais brilhante em raio-X do que detectado pelo Chandra. Na imagem no ótico à esquerda, a fonte mais fraca é o núcleo da galáxia S0/Sa NGC 1260, a 238 milhões de anos-luz de nós. No raio-X, as duas fontes são parecidas. Cada imagem tem 2,5 segundos de arco. A energia emitida, 1×1051 ergs, corresponde a 22 MSol de 56Ni.
Os elementos químicos gerados por reações nucleares no interior das estrelas, tanto por fusão nuclear levando até o Fe e elementos mais pesados gerados por acréscimo de nêutrons, são ejetados nas explosões de supernovas, e pelas perdas contínuas de massa durante a evolução das estrelas, produzindo a evolução química do Universo, e gerando o carbono e outros elementos que mais tarde colapsam formando planetas terrestres e até seres humanos.
Massa Inicial | Objeto Compacto | Massa Final |
---|---|---|
até 10 MSol | Anã Branca | Menor que 1,4 MSol |
10 a 25 MSol | Estrela de Nêutrons | 1,4 MSol |
acima de 25 MSol | Buraco Negro | 5 a 13 MSol |
Se uma anã branca com massa superior a 0,8 MSol fizer parte de um sistema binário próximo, é possível que, quando a estrela companheira se expandir na fase de gigante ou supergigante, transfira parte de sua massa para a anã branca a tal ponto que a massa da anã branca ultrapasse a massa de Chandrasekhar. Neste caso a anã branca explodirá como supernova tipo Ia, e cerca de 0,6 MSol será ejetado ao meio interestelar na forma de Fe, produzido durante a explosão. Esta é a maior fonte de Fe conhecida. Na foto, a SN1604 observada por Johannes Kepler em 17 de outubro de 1604, e que ele publicou no livro De Stella nova in pede Serpentarii. As SNIa podem ser originárias da coalescência de duas anãs brancas.
Massa (MSol) | Evolução | Final |
---|---|---|
até 0,08 | não queima (reação termo-nuclear) H | anã marrom |
0,08 a 0,45 | só queima H | anã branca de He |
0,45 a 8 | queima H e He | anã branca de C/O |
8 a 11 | deflagração do C ou colapso por captura de elétrons | disrupção total ou estrela de nêutrons |
11 a 100 | queima H,He,C,Ne,O,Si | estrela de nêutrons ou buraco negro |
acima de 100 | criação de pares, SN | disrupção total ou buraco negro |
Populações Estelares
Wilhelm Heinrich Baade, estudando a galáxia Andrômeda, notou que podia distinguir claramente as estrelas azuis nos braços espirais da galáxia, e propôs o termo População I para estas estrelas dos braços, e População II para as estrelas vermelhas visíveis no núcleo da galáxia. Atualmente, utilizamos essa nomenclatura mesmo para estrelas da nossa Galáxia e sabemos que as estrelas de População I são estrelas jovens, como o Sol, com menos de 5 bilhões de anos, ricas em metais, isto é, com conteúdo metálico (qualquer elemento acima do He) de cerca de 2%, enquanto que a População II corresponde a estrelas velhas, com cerca de 10 bilhões de anos, e pobres em metais, isto é, com menos de 1% em metais.
Sumário das propriedades das populações estelares
Propriedade | População I | População II |
---|---|---|
Localização | disco e braços espirais | bojo e halo |
Movimento | confinado ao plano | se afastando do plano |
órbitas quase circulares | órbitas excêntricas | |
Idade | < 7 ×109 anos | >7 ×109 anos |
Abundância de elementos pesados | 1 – 2 % | 0,1 – 0,01% |
Cor | azul | vermelha |
Exemplos | estrelas O,B | estrelas RR Lyrae |
aglomerados abertos | aglomerados globulares | |
regiões HII | nebulosas planetárias |
Paolo Cea, no Astrophysical Journal (2008) 674, 1056 propõe que tanto estrelas de nêutrons quanto buracos negros podem na verdade ser condensados cromomagnéticos de quarks up e down em equilíbrio β com elétrons, que também poderiam explicar a matéria escura.
Estrelas de população III são, por definição, as primeiras estrelas formadas na galáxia. Nos modelos homogêneos de Universo, a nucleosíntese do Big Bang só formou 10-13 a 10-16 de carbono, lítio e berílio, além do hidrogênio, deutério e hélio. Existem modelos assimétricos de Big Bang, com flutuações de densidade, que formam quantidades pequenas até de ferro, mas estes modelos prevêm que nestas regiões de maior densidade a quantidade de hélio, por massa, deveria ser de 36%, enquanto só medimos quantidades próximas de 25%, como previsto nos modelos homogêneos. Portanto as estrelas de população III deveriam ter [Fe/H]<-10, onde a nomenclatura [X] = logX – logXSol. As estrelas de menor metalicidade conhecidas na nossa Galáxia são
- a estrela SMSS J031300.362670839.3, com Tef=5125 K, descoberta por Stefan C. Keller e colaboradores (2014, Nature, doi:10.1038/nature12990), com [Fe/H]=log(NFe/NH-(log(NFe/NH)Sol<-7,1, mas com Mg (-4,3), C (-2,4) e Ca (-7,2) detectáveis.
- a estrela de sequência principal HE1327-2326 com [Fe/H]=log(NFe/NH-(log(NFe/NH)Sol=-5,4±0,2 (Anna Frebel, Wako Aoki, Norbert Christlieb, Hiroyasu Ando, Martin Asplund, Paul S. Barklem, Timothy C. Beers, Kjell Eriksson, Cora Fechner, Masayuki Y. Fujimoto, Satoshi Honda, Toshitaka Kajino, Takeo Minezaki, Ken’ichi Nomoto, John E. Norris, Sean G. Ryan, Masahide Takada-Hidai, Stelios Tsangarides & Yuzuru Yoshii. 2005, Nucleosynthetic signatures of the first stars, Nature, 434, 871),
- a gigante do halo HE 0107-5240, com [Fe/H]=-5,3±0,2 e massa 0,8 MSol,
- SDSS J102915+172927 com [Fe/H]=-4.99, sem enriquecimento de carbono(Cau et al. 2011, Nature 477, 67).
- a gigante CD-38:245, com [Fe/H]=-4,0 e
- algumas estrelas de seqüência principal, como a G64-12, com [Fe/H]=-3,5 (Norbert Christlieb, Michael S. Bessell, Timothy C. Beers, Bengt Gustafsson, Andreas J. Korn, Paul S. Barklem, Torgny Karlsson, Michelle Mizuno-Wiedner & Silvia Rossi, 2002, Nature, 419, 904)
Desde 2001 estão disponíveis modelos teóricos de estrelas de Pop. III, que indicam que, por não terem metais, não formam grãos e portanto não têm perda de massa na seqüência principal de idade zero, e se formam com massa de até 1000 massas solares.
Estas estrelas supermassivas evoluem rapidamente e, se não se tornam buracos negros mantendo toda a massa, poluem rapidamente o meio interestelar. O aglomerado R136 na região de 30 Dorados tem uma densidade central ρ>1,4×104 massas solares/parsec3 .
Sung-Chu Yoon, A. Dierks e Norbert Langer, no seu artigo de 2012 no Astronomy & Astrophysics, 542, 113, calculam o efeito de rotação e campos magnéticos nos modelos de população III com até 1000 massas solares. Bram P. Venemans e colaboradores publicaram em 2012 no Astrophysical Journal 751, L25, a detecção de carbono atômico [CII] em um objeto com z=7,1, isto é, quando o Universo tinha 780 milhões de anos. Tohru Nagao e colaboradores, usando o ALMA (Atacama Large Millimeter Array) detectaram nitrogênio, além de carbono, em uma galáxia a uma distância de 13 bilhôes de anos-luz. Mas Masami Ouchi e colaboradores publicaram em 2013, no Astrophysical Journal, 778, 102 que não detectaram carbono em uma galáxia com z=6,6 (idade 860 milhões de anos), embora ela esteja formando 100 massas solares/ano em estrelas.
André Maeder, no seu artigo de 1992 no Astronomy & Astrophysics, 264, 105, calcula a massa final vs massa inicial das estrelas, assumindo uma taxa de perda de massa dependente da metalicidade, já que a pressão de radiação é muito mais efetiva em ejetar as partículas grandes (metálicas) em comparação com H e He. Ele também calcula a contribuição (yield) destas estrelas ao meio interestelar, incluindo o vento estelar durante sua vida e sua ejeção final, mas levando em conta que parte da massa fica no objeto remanescente.
FONTE: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
Créditos: Kepler de Souza Oliveira Filho / Maria de Fátima Oliveira Saraiva
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